sexta-feira, 27 de junho de 2008
terça-feira, 17 de junho de 2008
Outra do Garrincha
Mas eis que na semana passada o homem aparece do nada com um artigo daqueles que dá vontade de ficar em pé e cantar a Marselhesa. Basicamente ele agradece a todos os que em algum momento pensaram em crescimento, mas se por um lado estavam na pista certa - o aparecimento de idéias deve ser de fato o motor do crescimento sustentado -, por outro ninguém chegou ao centro da questão: é na troca de pequenas idéias e aperfeiçoamentos feita em grande escala por todos nós que está a essência do fenômeno, e não no aparecimento esporádico de umas tantas invenções revolucionárias. E assim sendo, de fato as oportunidades de transmitir conhecimentos em períodos tão curtos de vida como os nossos é que faz o bolo crescer. Se essas oportunidades são escassas, as pessoas morrem levando consigo pequenas partes do conhecimento que só elas possuíam, e há que se esperar que por sorte outra venha e tenha o mesmo estalo e transmita aos demais. E nesse contexto, o papel da educação é quantitativo, já que expande a fração da população que participa do processo de troca de idéias.
Se alguém se interessar pelo assunto ou quiser ver como surge um paper seminal (que ainda está em estágio de texto para discussão), acesse esse link. Logo ao lado tem outro paper em co-autoria com Fernando Alvarez e Francisco Buera que complementa o primeiro.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Elefantes do Congo e Amazônia
De novo sobre ensino gratuito
sábado, 31 de maio de 2008
Nota Fiscal Paulista: Pode não funcionar
Na prática, tem havido vários problemas graves com o procedimento e que podem relegar ao fracasso uma boa idéia. Primeiro, os consumidores têm alertado que o crédito devido não tem sido feito. Após reclamações, o governo não tem logrado êxito em resolver o problema, gerando descrédito.
Segundo, os consumidores sonegam também. Por isso, acreditam que essa informação poderá ser usada contra eles no futuro, quando houver o cruzamento desses dados com os da receita. Hoje não há tal cruzamento e precisaria haver um convênio entre governos estadual e federal. Mas, o temor tem sentido, principalmente se a criação do IVA, pela qual centraliza-se a arrecadação desse tipo de imposto na esfera federal, for levada a cabo.
Terceiro, os fornecedores, sobretudo restaurantes, dificultam ao máximo a emissão de tal nota. Quando denunciados, é difícil crer que serão fiscalizados.
Quarto, poucos, evidentemente, têm o hábito de pedir nota fiscal e muitos acabam esquecendo-se de pedi-la. Às vezes, é tarde para pedi-la, às vezes vai demorar para ser feita, desistimulando o consumidor.
Quinto, todos sabemos que, quando o hábito de pedir nota fiscal estiver disseminado e o governo estiver arrecadando bastante, a não ser se a segunda razão for dominante, o governo vai revogar essa lei. Há pessoas que poderão achar que o investimento em mudança de hábitos é maior do que os benefícios.
Sexto, há quem prefira não pedir a nota fiscal porque sabe que boa parte do dinheiro adicionalmente arrecadado será usado para aumentar gastos desnecessariamente, desviar recursos e mesmo porque não acredita que haverá melhorias suficientemente compensatórias na saúde, segurança, educação, etc., haja vista o aumento de receitas havidas no Brasil sem contrapartida evidente nas últimas duas décadas.
Juntanto os problemas mencionados, o efeito líquido sobre a arrecadação do estado poderá não ser suficientemente elevado para justificar um programa como esse.
Ironicamente, se der certo, o governo federal também se beneficia, porque o aumento de arrecadação estadual virá, inexoravelmente, acompanhado de um aumento de impostos e contribuições federais de pessoa jurídica.
PS: Há um efeito perverso se o programa der certo: Os preços vão aumentar. Ou você acha que o custo menor, em razão da sonegação, não foi repassado aos preços?
terça-feira, 20 de maio de 2008
capital físico e capital humano
Era basicamente o seguinte: toda a modelagem de crescimento que tenta incorporar capital humano o faz tentando na medida do possível replicar as decisões e o processo de acumulação de capital físico, já bastante desenvolvido na literatura. No entanto, quando se fala de crescimento sustentado, e por conseguinte de inovação tecnológica sistemática, há um pequeno detalhe que pode fazer uma grande diferença: enquanto quando uma máquina morre seu substituto é um equipamento com maior conteúdo tecnológico (e portanto mais produtivo), um trabalhador é invariavelmente substituído por um recém-nascido com estoque quase nulo de capital humano, e ainda que a velocidade de aprendizado possa estar aumentando com o passar das gerações, é razoável que haja um limite em nossa capacidade de acumular conhecimento no período de uma vida.
A pergunta é então: quais as implicações dessa restrição (física) sobre o processo de acumulação de capital e de crescimento econômico? É possível reconciliar isso com uma taxa constante de crescimento do produto per capita sem cair numa knife edge? E as reduções observadas nas taxas de natalidade, não exigiriam que a capacidade de aprendizado fosse ainda maior para compatibilizar o modelo com os dados? E se o capital humano fosse o gargalo principal do processo de crescimento, não seria de se esperar então que os rendimentos associados a esse fator crescessem proporcionalmente ao longo do tempo?
Bom, se alguém aí se interessar por brux... ops, macroeconomia, fica aí um tópico interessante de pesquisa.
Ensino gratuito
Pergunte a 10 PhD's se o ensino básico deveria ser gratuito, e ouvirá que SIM, porque o investimento em capital humano é arriscado e não é colateralizável, agravando as dificuldades de se obter crédito para financiá-lo, e fazendo com que se invista abaixo do nível ótimo.
Pergunte agora aos mesmos ditos se a universidade deveria ser gratuita e ouvirá que NÃO, porque os estudantes são os maiores (senão os únicos) beneficiários de tal investimento, e é injusto que toda a sociedade pague por um benefício que será de poucos (ou em economês, na ausência de externalidades, não há porque ter subsídios).
Sei não, mas tenho a impressão que está faltando amarrar essa história para não ficar parecendo que é tudo achismo. Ou como disse o Bloomberg num discurso de formatura em Penn:
sábado, 3 de maio de 2008
Marcha soldado
Para não ficar para trás o tenente Pioner já está estudando as medidas cabíveis e o private Bueno já colocou sua infantaria "neoclássica" de prontidão (impressionante como tem milico nessa nossa área).
Rio de Janeiro: Prefeitura regulamenta lei obrigando bares e restaurantes a oferecer fio dental junto com a comida
Jaú (SP): Prefeitura proíbe venda de carambolas a doentes renais
Xapurí (AC): Governo federal inaugura primeira fábrica estatal de preservativos
... é minha gente, imagina o que não acontece nos países que não são investment grade
(adendo 19h00) Maracanã(RJ) e Morumbi(SP): Mais uma vez o Flamengo foi campeão e mais uma vez a Ponte Preta do nosso amigo Ricardo Avelino ficou na fila. Ao menos isso no Brasil é 100% previsível.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
O Bolsa-Família é um sucesso?
E o que dizem as avaliações? Bom, as que eu conheço basicamente se preocupam em medir se os efeitos colaterais estão sob controle e se o dinheiro está de fato chegando nos pobres. E os números são bastante satisfatórios. A oferta de trabalho dos homens adultos não se alterou nas famílias recipientes e a das mulheres até aumentou um pouco, e os beneficiários acompanham a tendência geral de redução do número de filhos. O fato do dinheiro ser recebido pelas mães (ao invés dos pais) também parece garantir que uma maior fração seja direcionada aos filhos. Dos objetivos do programa, o segundo tem sido alcançado a um custo satisfatório, indicando que o programa é bem focalizado e que o dinheiro que chega aos pobres faz diferença no final do mês.
Mas o mais importante as avaliações ainda não responderam: estão os jovens participantes ficando mais produtivos e reduzindo a chance de que eles mesmos venham a formar famílias pobres no futuro? As poucas tentativas de encontrar esse impacto são inconclusivas e majoritariamente mal feitas. Quando verificam atendimento escolar, raramente prestam atenção no aproveitamento (qualidade do ensino oferecido e absorção do conteúdo). Também não têm sido cuidadosas em descontar uma parte do aumento de atendimento que teria ocorrido independentemente do programa, acompanhando tendência secular de aumento de escolaridade, nem os efeitos dinâmicos da decisão de estudar mais no presente (por um lado, novas oportunidades aparecem, e por outro o impacto de um ano adicional de estudos sobre rendimentos cresce com as séries escolares, de modo que verificar que uma criança de 7 anos vai à escola é diferente de verificar que uma de 15 continua indo à escola, etc).
Sem isso, o melhor que se pode dizer é que o bolsa-família é um programa de transferência melhor que seus predecessores, mas essas questões estão no ar e precisam ser respondidas para definir a continuidade e abrangência do programa.
domingo, 20 de abril de 2008
Efeito Maria Antonieta
Planos de saúde: desde a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar que o esporte nessa seara é ampliar a cobertura dos planos, afinal é "justo" que quem tem plano seja protegido contra todas as intempéries. Mas como a conta não fecha, as seguradoras têm que aumentar o preço (com o problema adicional de seleção adversa que se agrava quando há menos instrumentos para discriminar consumidores), e o resultado é que pessoas que poderiam pagar seguros menos amplos acabam por ficar sem seguro.
Cursos superiores: parte do ódio que o MEC sente pelas faculdades privadas vem da "baixa qualidade" dos cursos, pois quem paga deveria receber um curso pelo menos tão bom quanto o que o Estado oferece, certo? Errado. Há na economia demanda por profissionais com formação mediana, e exceto por algumas poucas áreas em que um mínimo deve ser exigido para exercer a profissão, não há ganho algum em se impedir que cursos piores surjam. Cursos melhores são mais caros e mais difíceis, e fazem com que pessoas que estudariam deixem de estudar e competir por essas vagas medianas, podendo eventualmente melhorar de vida. E como o mercado promove os mais produtivos, as chances de que um desqualificado ocupe um posto-chave que possa prejudicar a sociedade é pequena.
Carteira de trabalho: aqui a exigência é que uma firma só possa contratar um profissional se no pacote também topar pagar o dobro em encargos trabalhistas. Com isso sobram firmas que gostariam de ampliar seus quadros se pudessem ter uma folha de pagamento mais conectada à produtividade do trabalho, e desempregados que abririam mão de alguns benefícios se pudessem trabalhar.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Uma das Heranças Malditas
terça-feira, 15 de abril de 2008
Freako News!!
Pesquisadores britânicos mediram os níveis de testosterona e cortisol na saliva de operadores e concluiram que mais testosterona está associada a maiores lucros na bolsa. A explicação é que quando os níveis do hormônio estão mais altos os operadores agem de forma mais irracional, tomando mais riscos do que deveriam (e portanto ??? lucrando mais). Os resultados confirmam outros encontrados em atletas, que tendem a aumentar suas chances de vitória nessas circunstâncias.
Essa notícia está na Folha de hoje, mas achei legal a sugestão de termos um espaço dedicado à "divulgação" de idéias econômicas alternativas. Se souberem de algo, mandem para nós.
domingo, 13 de abril de 2008
A justiça social e a justiça do mercado
E o pior que pode acontecer é o legislador ignorar esse fato e seguir em frente, pois a consequência é que o executivo, visto que não há como fazer com que todas as leis sejam respeitadas, escolhe discricionariamente as que irão "pegar", deixando as demais para alimentar as gavetas da burocracia. É essa a mais sutil subversão do ideal democrático, pois além da dificuldade de identificar as culpas do governante, faz com que o primeiro impulso dos cidadãos seja sempre o não-cumprimento das novas regras, até que alguém indique que uma específica veio para ficar.
A conclusão desse raciocínio pode ser interessante. Primeiro, o "tamanho" da legislação deveria respeitar de algum modo uma restrição orçamentária. Países mais pobres deveriam ser mais parcimoniosos na definição de suas prioridades, e priorizar também regras mais fáceis de monitorar. Segundo, países mais ricos tendem a ser mais "previsíveis", se a maior previsibilidade dos payoffs de uma determinada estratégia for um "bem normal". Terceiro, países pobres não necessariamente deveriam tentar imitar à risca a legislação de países ricos. Se a Suécia pode sustentar jovens desempregados por anos a fio ou estender a licença-maternidade aos avós, tios e primos, isso não quer dizer que o Haiti também o possa (ou deva), mesmo que os haitianos achem isso "justo".
O Brasil se encontra nesse aspecto no pior dos mundos: nossa legislação é grande e complicada, o acesso à justiça é caro e o monitoramento por parte do Estado é ineficiente, e no topo disso tudo, uma parcela significativa dos nossos juízes ainda acredita que deve seguir regras não escritas (seus valores pessoais) se acreditarem que com isso estarão promovendo maior equidade.
sábado, 12 de abril de 2008
O Equilíbrio Ruim no Trânsito
Creio que o leitor que mora em São Paulo, principalmente, já passou por algo parecido. Geralmente, vê-se nessa situação quando um ônibus resolveu avançar a rua e acaba fechando trânsito. Os motoristas fechados reagem e, assim que podem, fecham o trânsito também, e todo mundo fica parado. Entretanto, se todos tivessem respeitado o sinal normalmente, o trânsito não estaria tão ruim.
Por que essa história toda? Para mostrar a situação de caos no trânsito que vivemos não decorre necessariamente de falta de educação no trânsito, mas de um hábito generalizado de descumprir a lei. Mesmo quem não quer descumpri-la, vê-se obrigado a agir assim ante as externalidades negativas originadas por outros motoristas. É quase incontrolável.
Os E.U.A. têm mais carros e é mais fácil obter a carteira de motorista do que no Brasil. No entanto, os acidentes fatais são em muito menor proporção, em razão da fiscalização que há. O custo de monitoramento por veículo nos E.U.A. é muito menor do que no Brasil, porque os motoristas de forma geral respeitam a lei. Não sei se a maioria deles desrespeita as leis de trânsito no Brasil, mas é certo que a proporção daqueles que desrespeitam é tão alta que o custo de monitoramento deles é excessivo, razão pela qual há esse número elevado de acidentes de trânsito em estradas e na cidade e, certamente, congestionamentos.
Há três mensagens que eu queria explicitar a partir dessa história. A primeira é que não adianta tornar mais caro o custo de se obter uma carteira de motorista no Brasil, se continuarmos com essa cultura de não fiscalizar e não punir quem descumpre as regras de trânsito. A segunda é a lição que o Daniel Santos me ensinou hoje: o número de descumprimentos da lei é não-linear, logo o número de fiscais poderá ter que ser bastante elevado para reduzir drasticamente os crimes de trânsito. Uma vez reduzidos, ainda assim terá que se manter um número elevado de fiscais para evitar que se volte à situação anterior de caos no trânsito. A terceira lição é que esse modelo poderia ser aplicado a outros comportamentos coletivos típicos que se observam no Brasil.
Antes que apareça algum heterodoxo desvairado dizendo que estou propondo aumentar os gastos públicos com mais fiscalização, cabe-me dizer que a proporção de renda expropriada da sociedade atualmente é mais do que suficiente para cobrir os custos adicionais de fiscalização. Trata-se apenas de uma realocação de recursos já existentes.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Outra do Picachu
Mas como se diz por aqui, no fundo do poço tem sempre um alçapão. Agora o Picachu e seus amigos resolveram que o IPEA deve ter um mestrado em economia, o que além de desviar a instituição completamente de sua função, gera a suspeita de que, aos moldes do BNDES, o que se deseja no fundo é simplesmente criar mais uma madrastra para doutrinar estudantes (em particular gestores) em suas teorias malucas. E o que é pior: tudo foi discutido à revelia dos técnicos da instituição e comunicado recentemente para ser implementado já no próximo ano.
Não tenho dúvidas de que faltam no Brasil escolas de políticas públicas comprometidas com formulação e avaliação constante de projetos propostos pelo Estado. O problema é que da forma como as coisas são feitas, me parece que este é o último objetivo desta proposta. Nunca é demais lembrar que o governo federal já dispõe da Escola Nacional de Administração Pública e da Escola de Administração Fazendária, e que o mínimo que deveria ser feito num caso desses seria ter ouvido quem de fato entende de políticas públicas na elaboração do projeto.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Aprovação do Presidente
Não há por que duvidar da pesquisa que lhe dá 58% de aprovação. Assim, a discussão aqui é sobre os incentivos que um indivíduo tem em dar esse voto de confiança. Como se sabe, não há escândalo federal que atinja Lula. Se a eleição fosse agora, ele seria reeleito. Por que tamanha devoção?
Primeiro, a economia mundial favoreceu bastante o desempenho da economia local e o atual mandatário federal fez por bem manter a política monetária do seu antecessor. O leigo não conseguirá distinguir isso, pois a história também não distingue de Médici essa característica.
Segundo, houve o aperfeiçoamento do programa de transferência de renda do governo anterior. Com o auxílio de cavaleiros formados em escolas de economia ortodoxas, como Ricardo P. de Barros, que é doutor por Chicago, o governo foi capaz focalizar seus programas sociais em indivíduos realmente pobres. Mesmos os brasileiros menos favorecidos, mas assalariados, guardam devoção ao presidente, certamente porque conhecem alguém beneficiado pelo Bolsa Família. Ora, como o programa agora é melhor do que qualquer outro que já houve no país, é natural que os beneficiados creditem o sucesso ao atual presidente. É uma consideração objetiva, correta e dificilmente sujeita a controvérsia. Outros elementos que constituiriam necessidades da população como segurança, saúde e educação ou são secundários, ou são associados aos governos locais. O Presidente atual já está nos anais da história ao lado de Getúlio e Juscelino, como um grande estadista... para o padrão brasileiro, bem dito.
Entretanto, é preciso que se diga que o Presidente não é o governante mais bem avaliado no continente americano. Na verdade, ele é o 11.o presidente mais bem avaliado, segundo o instituto de pesquisa Consulta Mitofsky do México. O presidente mais bem avaliado é o colombiano Uribe.
O próximo Presidente não conseguirá tamanha aprovação, pois o atual açambarcou toda a popularidade que poderia advir do bolsa família; os beneficiados associam naturalmente isso ao atual chefe de governo e estado.
À propósito, os economistas ortodoxos são os agentes mais preocupados em formular e avaliar programas sociais, que efetivamente dêem resultado. Infelizmente, não têm tempo para replicar a retórica heterodoxa de que os "neoliberais" estão a serviço do capitalismo e contra os pobres, justamente porque estão trabalhando em prol das camadas menos favorecidas da sociedade. O exemplo máximo, sintetizando tudo o que se podia falar sobre isso, está representado no nome mencionado neste post.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Pedágio Urbano
Aparte ao pedágio urbano
Outro problema são as desapropriações, que sempre desagradam um monte de gente. Nunca é demais lembrar que graças a abaixo-assinados e liminares, duas estações previstas na linha 4 foram canceladas (isso mesmo, entre o Eldorado e o Shopping Butantã não haverá uma parada sequer). Então parte do problema não é falta de recursos, mas de incentivos para alinhar a vontade do administrador à da maioria da população e não deixar que um grupo capture-o.
domingo, 6 de abril de 2008
A universidade-jabuticaba
Os gastos na universidade-jabuticaba também não são submetidos a avaliações rigorosas de desempenho. Do lado dos que ensinam, prevalece a isonomia salarial, com variações de rendimentos muito mais relacionadas a senioridade e ocupação de funções burocráticas na estrutura das instituições do que à produtividade científica propriamente. Já não estamos 30% abaixo da média latinoamericana em produção por doutores, como no auge da crise universitária dos anos 90, mas ainda não conseguimos sequer alcançar nossos vizinhos. E como em grande parte das áreas os custos para se manter um departamento são proibitivos ao setor privado, apenas o Estado investe e no final ainda se orgulha de ser responsável pela maior fração da parca produção nacional. A performance didática tampouco é satisfatória, sendo comuns os casos de professores mau avaliados por anos a fio sem que haja qualquer forma de repreensão.
Do lado dos que estudam, o dinheiro gasto guarda pouca relação com o aproveitamento escolar. É permitido inclusive aos já formados fazer um segundo curso gratuitamente (algo que nem o socialismo cubano aceita), as regras de jubilamento são frouxas e frequentemente descumpridas, há extrema tolerância com violações elementares do código penal (invasões com manutenção de funcionários cativos, saques a restaurantes universitários, etc.), e mesmo os critérios de premiação como notas, bolsas,e tc, são frequentemente desvinculados do mérito acadêmico.
Mas tudo isso é sabido e não é de hoje. O mais preocupante para mim é saber para onde o barco está andando. Ao mesmo tempo em que os governos estaduais e federal anunciam aumentos significativos nos gastos do setor, especialmente com a abertura de novas universidades, as estatísticas de evasão atingem um pico de 48% (chegou a ser anunciado que o número de formados diminuiu apesar do maior número de vagas disponíveis). Nesta semana foi celebrado como vitória pró-igualdade a sentença do supremo autorizando os regimes de cotas, o que se por um lado de fato pode alterar as diferenças por cor, provavelmente vai exacerbar as diferenças intra-raças, já que o mesmo fenômeno de subsídio público ao benefício privado vai se manter. E no topo disso tudo, é explícita a aversão dos formuladores de políticas educacionais ao aumento da participação do setor privado na provisão de serviços desse tipo.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Legados da Revolução de 1964
De fato, muita gente gosta do período militar em razão das altas taxas de crescimento havidas nos governos Médici e Geisel. A interpretação é equivocada. Vou explicar por quê.
Há duas heranças, de fato malditas, do regime militar. A primeira é a megainflação decorrente da indexação de contratos e salários, idealizada, vejam só, por Roberto Campos. Claro que ele se arrependeu da infeliz idéia depois. Infelizmente, ainda não nos livramos dessa estupidez. Vejam vocês que contratos de aluguel e tarifas públicas, por exemplo, ainda adotam essa excrescência, mas estamos no bom caminho.
A segunda herança maldita é a idéia é associar o crescimento espetacular durante o governo militar à intervenção estatal, como se fosse a panacéia. E, aliás, os heterdoxos adoram usar o exemplo do governo que combateram para justificar suas idéias mirabolantes. Há dois erros crassos, no meu julgamento, a respeito dessas conclusões.
Sem contar que a base inicial é baixa, por isso o crescimento foi alto, o primeiro erro crasso é deixar de associar às condições econômicas favoráveis de então o crescimento durante o governo Médici. A história se repete, claro, e é isso que se faz presentemente.
O segundo erro crasso é achar que o crescimento do governo Geisel não veio caro. Deveria ter havido um ajuste no primeiro choque do petróleo, mas ele preferiu emprestar dinheiro para sustentar a implantação das estatais. Segundo, porque esses empréstimos saíram caro na década seguinte, não só pelos juros altos, mas principalmente pela estagnação que isso gerou durante mais de 20 anos.
O regime militar é mais um exemplo do que não deve ser feito no Brasil. Exatamente por causa dele, não saímos do lugar até hoje, inclusive do ponto de vista político-ideológico, que não me compete discutir. É curioso ninguém associar a estagnação dos anos 80 e 90 à política econômica dos militares.
Apenas para dar um exemplo, que sintetiza aquela revolução do ponto de vista econômico como um atraso do qual não nos livramos ainda, lembro o estabelecimento da reserva de mercado de informática. Hoje, exportamos softwares e cérebros em computação. Imagine o que seríamos, se tal reserva não tivesse existido.
À propósito, tenho a impressão que nasce no início da década de 80 com as maxidesvalorizações do Ministro Delfim Neto a idéia de que exportar é o que importa. Lembro-me da propaganda na televisão dizendo que o país lograra contas superavitárias em seu balanço de pagamentos.
Essa concepção estatista origina-se num passado distante. Não creio que um regime civil tivesse sido muito diferente do que ocorreu. Nosso subdesenvolvimento é cultural, decorrente de uma história perpétua de heterodoxia (sub)desenvolvimentista, que provavelmente começou nas capitanias hereditárias.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
O "Neoliberalismo" de FHC
Muita gente também associa o termo ao governo FHC, embora o próprio ex-presidente, numa forma de negar-se como neoliberal, diz claramente em seu livro "A Arte da Política" que nunca se rendeu ao mercado (donde concluo que neoliberalismo é render-se ao mercado, seja lá o que significa o termo rendição). Não sei porque ninguém acredita nele, já que FHC foi formado numa tradição heterodoxa. Mas, já que ninguém acredita, vamos a alguns fatos que provam que FHC não mente nesse caso.
Algumas medidas econômicas do governo FHC se destacam. Menciono:
1. Flexibilização do câmbio em janeiro de 1999;
2. Sistema de metas de inflação, efetivo a partir de 2000;
3. Privatizações;
4. Impostos.
Vou discutir esses pontos rapidamente.
Câmbio Flexível
O câmbio flexível é uma medida ortodoxa. Então, a primeira conclusão é que o FHC é metade ortodoxo e metade heterodoxo. O que o define, verdadeiramente, como heterodoxo é não ter flexibilizado o câmbio antes, quando podia. A flexibilização do câmbio em 1999 não se deu por vontade política, o que caracterizaria uma política ortodoxa, mas porque não havia outra saída. Foi a necessidade econômica que impôs a flexibilização do câmbio. Portanto, não é por isso que o FHC seria "neoliberal".
Metas de Inflação
Trata-se de uma sistema de cunho ortodoxo. Ainda que eu veja sua eficácia com restrição, como falei em posts anteriores, trata-se de uma medida política, ainda que possa ser mal usada. Não é, pois, uma imposição de mercado ou econômica, mas uma recomendação razoável.
Privatizações
Sem contextualizar, as privatizações seriam, de fato, uma medida ortodoxa. Mas, há duas óbices no caso FHC. Primeiro, as privatizações das teles, por exemplo, foram feitas segundo regras heterodoxas, ou há quem acredite que a indexação de tarifas à inflação passada trata-se de uma medida ortodoxa? Na verdade, todas as privatizações foram feitas segundo uma lógica arrecadatória estatal, com fins de pagar a dívida pública. A idéia era: vamos vender as estatais ao maior preço possível. Para isso, garantimo-lhes tarifas reajustadas de acordo com inflação (o fator X é relativamente baixo). Essa garantia dá-lhe um lucro real previsível e constante e dá-nos uma arrecadação tributária real também previsível e constante. Essa foi a lógica das privatizações. A lógica ortodoxa seriam reajustes pré-fixados de tarifa, revistos periodicamente. Se os reajustes são pré-fixados, as empresas teriam incentivos a maiores ganhos de produtividade, o que beneficiaria o consumidor. Outro fenômendo heterodoxo é a falta de competição de modo geral, mas sobretudo no setor de telecomunicações, talvez pela falta de agências reguladoras fortes e competentes (há quem diga, contudo, que agências reguladoras podem ser capturados pelo regulado).
A segunda óbice é o que não foi privatizado e que, claramente, mostra o viés anti-"neoliberal" do governo FHC. Por que o governo precisaria de dois bancos grandes como Caixa Federal e Banco do Brasil? Por que ainda existem o Banco do Nordeste, as companhias geradoras de energia, o BNDES, a Petrobrás? Ora, se foi possível privatizar a Vale do Rio Doce, por que não seria possível privatizar as demais empresas? Creio que a manutenção dessas estatais já seria suficiente para classificar definitivamente o governo do FHC de heterodoxo, mas há mais.
Impostos
É aqui que se evidencia, nitidamente, o viés heterodoxo de FHC. A participação da arrecadação tributária em relação ao PIB aumentou entre 1994 e 2002 16% (e continua aumentando), passando de 27,90% para 32,35% (segundo dados do IPEA). Acompanhe o gráfico desde 1990:
Creio que isso define bem o governo FHC. Aí pergunto, como pode um "neoliberal" ser ao mesmo tempo a favor do estado mínimo e agir de forma a aumentar a participação do estado na economia?
Conseqüências do Déficit em Transações Comerciais
Qualquer que seja a predominância da pautas de importações, se de máquinas e equipamentos ou bens de consumo final, o déficit em transações tende a valorizar o dólar. Num prazo médio, a balança volta a se equilibrar, porque os preços dos bens exportados caem e dos bens importados, sobem. Aqueles que queriam ver a desvalorização do dólar ficarão felizes. Enfim, se antes achava-se que o dólar estava desvalorizado, trata-se do movimento reverso, natural.
Portanto, a mensagem é: o câmbio é flexível, então o mercado se ajusta rapidamente. Quantos aos contratos pré-estabelecidos, normalmente já estarão em "hedge" da bolsa do Brasil ou do exterior. (Sem contar que o exportador/importador sabe dos riscos do seu negócio e coloca, portanto, isso no preço).
Há muitos "economistas" (entre aspas mesmo) dizendo que o governo deveria intervir no câmbio ou "não disse? agora é tarde" e coisas do gênero. Estupidez e desonestidade intelectual. Esses mesmos economistas escamoteiam a história, dilapidam a realidade, distorcem fatos e números, mas é fato o seguinte: as intervenções do governo no câmbio sempre acabaram sendo desastrosas. No "Processo de Substituição de Importações" havia câmbio para importação e câmbio para exportação, recrudescendo nosso atraso e distorcendo a economia. A última intervenção séria do governo no câmbio foi durante a presidência de FHC, que gerou ataques às reservas, tão-somente porque o câmbio era fixo.
Finalmente, eu queria que alguém me explicasse esse viés exportador que existe neste país, como se importar conhecimento a preços baratos fosse ruim, como se importar produtos a preços baratos fosse ruim, já que estimula a competição, gera bem estar à sociedade e estimula a poupança. Se alguém souber a resposta, fique a vontade para replicar.
Clique aqui para ler outro post no qual escrevo sobre os superávits no balanço comercial.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Regra de Taylor nos EUA: Parte 2
Motivação
Greenspan, em discurso à Associação Americana de Economia em 2004, disse duas coisas importantes:
a. A regra de Taylor não serve nem como prescrição, nem como descrição da política monetária da instituição que ele presidia;
b. Em cada reunião do comitê de política monetária, mudam-se os modelos, muda-se as respostas a cada variável. Logo, não havia regra, mas discricionaridade. Possivelmente, uma regra com coeficientes variantes poderia caracterizar a política monetária seguida no banco central, mas deveria incluir muito mais variáveis que eles observavam para tomar decisão.
Quer dizer: os pesquisadores diziam que havia, sim, uma regra; mas, o sujeito racional, que tomava decisão, dizia que não tinha. Então, os pesquisadores, que sabiam mais sobre o sujeito do que ele próprio, deviam estar certos. (Curioso. Bem, não conhecemos nossa função utilidade, mesmo assim, os economistas dizemos que ela existe... vai ver os heterodoxos estão certos.)
Além dessa motivação natural, há as evidências empíricas levantadas no post passado, como o leitor já conhece.
Proposta
O excesso de atividade utilizado em outras formulações pode não ter sido aquele usado pelo comitê de política monetária para definir os juros. Não é possível saber que excesso eles usaram, mas é possível estimá-lo conjuntamente com a regra. Dependendo de como for, a política monetária foi ativa (resposta à inflação superior a 1, indicando estabilidade inflacionária, segundo o Princípio de Taylor) durante o Greenspan.
Se o Greenspan diz que os coeficientes da regra são variáveis, deve ser porque são. Então, estimemos o modelo sob essa hipótese. A mesma técnica resolve o problema do coeficiente variável e do excesso de atividade não observado.
Resultados
Estimar a regra juntamente com o excesso de atividade não altera as conclusões anteriores. Quer dizer, a resposta do juros à inflação continua sendo num proporção menor do que um para um.
Estimando a regra juntamente com o excesso de atividade e permitindo que a resposta de juros varie ao longo do tempo, o coeficiente da inflação dificilmente fica maior do que 1, normalmente é inferior a um, e freqüentemente é negativo, particularmente durante o período Greenspan.
Conseqüências
A primeira conseqüência, creio, é que se comprovou que o Greenspan não mentiu. Quer dizer, a regra é totalmente discricionária, como havia sido dito.
A segunda conseqüência é a associação entre estabilidade e uma resposta à inflação menor do que o estabelicido no princípio de Taylor, mostrando-se, mais uma vez, que ele foi violado.
Se você estiver interessado no trabalho original, clique aqui.
Regra de Taylor nos EUA: Parte 1
Senso Comum
Usando a Regra de Taylor para caracterizar a política monetária norte-americana, chegam-se, invariavelmente, a duas conclusões:
1. Antes de Paul Volcker tornar-se presidente do banco central americano em 1979, a política monetária norte-americana era instável;
2. Depois do Volcker, tornou-se estável.
Essa conclusão se demonstra calculando-se a resposta dos juros à inflação futura antes e depois do Volcker. Conclui-se que, antes, a resposta é menor do que 1; depois, maior do que 1.
O senso comum parece ter sentido, principalmente porque a inflação no período Greenspan foi muito baixa e o excesso (ou retração) da atividade econômica eram muitos baixo. Se a inflação estava controlada, o princípio de Taylor se aplica.
Inúmeros trabalhos chegam à mesma conclusão, inclusive alguns dizendo que a inflação americana antes do Volcker era estável também.
Problemas
Em minha tese, identifiquei dois problemas comuns a todos os trabalhos anteriores.
1. A data de quebra amostral em 1979 era arbitrária (explico melhor depois);
2. Para estimar a regra, é preciso ter o excesso de atividade, mas a atividade potencial não é observada. Trata-se, entretanto, de uma variável muito importante a determinar a magnitude dos coeficientes dessa regra, ou seja, a resposta dos juros à inflação e ao excesso de atividade. Os outros trabalhos usavam alguma metodologia para obter essa variável e a traziam para a regra exogenamente.
Evidência
Fiz dois exercícios simples. No primeiro, expando a amostra de outros trabalhos para abranger os períodos presidenciais do Volcker e do Greenspans. A resposta a inflação parece ser ainda maior que já havia sido calculado.
No segundo, deslizo a quebra amostral para o ínício do Greenspan. E obtenho resultados totalmente inesperados. Tudo se esvai. Antes de Greenspan, a resposta à inflação é menor do que a proporção um para um. Tudo bem, o período anterior ao Volcker pode estar conduzindo os resultados. Depois do Greenspan, a resposta à inflação cai drasticamente, chegando a ser até negativa, estatisticamente menor do que um em alguns casos, e, normalmente, é um coeficiente bastante volátil.
Conclusões Parciais
1. A data de quebra é fundamental.
2. Algo aconteceu na gestão Greenspan.
3. É a puxada da taxa de juros no período Volcker, época do segundo choque do petróleo, que está "viesando" o coeficiente da inflação para ser maior do que 1.
Regra de Taylor no Regime de Metas
Fundamentos
Na origem, a Regra de Taylor é muito ligada ao regime de metas. Taylor mesmo supõe uma meta implícita na regra. Além disso, os desenvolvimentos teóricos para justificá-la pressupunham a fixação de uma meta.
Então, em 1999, foi criado o regime de metas no Brasil, explicitamente anunciado.
Com o regime de metas também foi criada uma sistemática de coleta de informações sobre as expectativas futuras de inflação para os próximos 12 meses.
Assim, a equação para estimar a Regra de Taylor tinha que mudar. Em vez de colocar inflação, tem que colocar desvio da meta de inflação.
Resultados
Quando eu coloco na regra o desvio da meta em vez de expectativa de inflação futura, o coeficiente da inflação fica maior do que um. Não era surpresa, e estava previso teoricamente.
Mas, algumas surpresas apareceram. Primeiro, mantendo a idéia de usar a expectativa de inflação, como nos períodos anteriores ao regime de metas, a resposta dos juros à essa expectativa perde significância e magnitude.
Bem, coloquei inflação corrente na regra e obtive um coeficiente menor do que um, porém significante. E, pior, a regra descrevia a política monetária tão bem quanto usando o desvio da meta. Então, se o banco central diz que está olhando a inflação para o próximo ano, se há um regime de metas nesse sentido, cabem as perguntas:
1. Como, agora que o banco central está dizendo, explicitamente que persegue uma determinada inflação para os próximos 12 meses, não se consegue obter um coeficiente de expectativa signficante se, quando nada dizia, era possível extrair esse comportamento dele?
2. Como pode uma regra com inflação corrente descrever a mesma política monetária descrita por uma regra com desvios de meta, supostamente determinados por essa expectativa futura de inflação?
Quer dizer, tem algum coisa incoerente acontecendo.
Não tenho respostas para essas perguntas, não era o objetivo da minha tese. Entretanto, lá tem um gráfico em que eu mostro que a diferença entre inflação corrente e desvio da meta é só uma questão de magnitude, pois a direção de variação e intensidade é idêntica.
Conseqüências
A se comprovarem os resultados obtidos, cheguei às seguintes conclusões:
1. As autoridades monetárias não olham mais para o futuro, o que viola, de certa forma, o princípio de racionalidade dos agentes.
2. A inflação corrente determina os desvios da meta.
3. Como desvio e inflação corrente explicam igualmente a política monetária, e como a resposta dos juros à inflação corrente é menor do que 1, mais uma vez, violou-se o princípio de Taylor.
Paper Original
Se você quiser ler o paper original, clique aqui.
Regra de Taylor depois do Real
Resultados
Estimei a Regra de Taylor depois do Real para o Brasil, usando um modelo de expectativas racionais em que o banco central fixa a taxa de juros com base na expectativa futura de inflação e de excesso de atividade econômica. Neste caso, limitei os dados até dezembro de 1998, porque a desvalorização cambial abrupta de janeiro seguinte veio acompanhada de um aumento espetacular da taxa de juros. Esses dois movimentos, obviamente, podem influenciar muito os resultados finais, mas não caracterizam o período como um todo.
Pelo princípio de Taylor, o resultado deveria indicar que a resposta da taxa de juros à inflação devia ser superior à proporção de 1 para 1. Mais ainda, como já era superior a 1 antes da estabilização inflacionária, esperava-se que o coeficiente ficasse ainda maior.
Bem, o Brasil supreende, e o resultado mostrou que a resposta do banco central ainda é baseada nas expectativas futuras, porém numa proporção menor do que 1 para 1.
Há quem diga que os juros respondiam às reservas internacionais, porque a taxa de câmbio era fixa. Bem, não encontrei significância no coeficiente. Nas poucas vezes em que houver alguma significância, seu tamanho era baixo.
Conseqüência
A conseqüência mais importante é teórica, na verdade, pois, mais uma vez, violou-se o princípio de Taylor. Isso indica que o modelo que fundamenta essa regra pode estar furado.
Regra de Taylor durante a Megainflação do Brasil
Senso Comum
Dizia-se que a inflação brasileira até o advento do Real era inercial, porque os contratos eram indexados com base na inflação passada. Portanto, as pessoas olhavam para a inflação do passado e subiam os preços.
Tentei escrever um artigo sobre inflação inercial com meu amigo Marcos Tsuchida. Felizmente, o artigo não sobreviveu ao parecerista. Concluí que não havia entendido o que era inflação inercial. E, talvez por isso, tenha essa fixação para entender inflação, tema da minha tese de doutorado.
Inercial ou não, a inflação estava descontrolada. E, na época, dizia-se que as autoridades monetárias simplesmente referendavam esse ser, imprimindo a moeda corresponente ou aumentando os juros conforme "ela" determinava.
Intuição Econômica
Dito isso, pergunto: se você é um comerciante e sabe que a inflação do mês passado foi de 10%, por que você não aumenta seus preços em, digamos 15%, para ficar mais rico? Parece-me que essa seria a atitude racional dos comerciantes. E os demandantes, sabendo que os preços vão aumentar, tenderão a comprar tanto quanto conseguirem, quando recebem papel moeda. Se isso fizer algum sentido para você, creio que fazia para as autoridades monetárias também. Assim, eles percebiam esse movimento e, para evitar a hiperinflação, obrigatoriamente tinham que aumentar os juros numa proporção maior que a inflação VINDOURA, e não passada.
Resultados
A teoria de inflação inercial nunca prosperou, mas muita gente achava "evidências" dela em modelos econométricos de séries temporais.
Minha tese mostra que esses resultados estavam equivocados, e que a intuição anterior devia ser considerada mais detalhadamente. Para isso, uso como referência a Regra de Taylor.
Estabeleço um modelo de expectativas racionais em que os agentes olham para o futuro. Então, consigo mostrar empiricamente que as autoridades monetárias no Brasil faziam exatamente o que o Taylor propunha, isto é, fixavam a taxa de juros à proporção de 1,5 vezes a inflacão.
Se, em vez de usar a expectativa de inflação futura, eu usasse a inflação passada ou corrente, a resposta teria uma magnitude menor.
Conseqüências
Há três conseqüências a partir dos meus resultados. Primeiro, se a "teoria" de inflação inercial tivesse algum sentido, a resposta à inflação futura deveria ser menor ou igual a resposta à inflação corrente.
Segundo, as autoridades monetárias, e os agentes em geral, não são estúpidas de olhar apenas para trás, mas, sim, estabelecem suas perspectivas de futuro. Creio que este é um resultado bem interessante em contraposição ao consenso de outrora.
Terceiro, há uma associação entre descontrole inflacionário e reação à inflação numa proporção maior do que 1 para 1. Entretanto, não se estabiliza a inflação. Portanto, o princípio de Taylor foi violado.
Regra de Taylor
Fundamentos
Em 1993, John B. Taylor, professor de Economia de Stanford e então no banco central norte-americano, postulou que a taxa de juros nominal básica observada podia ser expressa por uma simples equação linear. Por essa equação, a taxa de juros responde à inflação e ao excesso de nível de atividade da economia. Em outras palavras, o banco central fixava a taxa de juros segundo uma regra simples: a relação entre juros e inflação devia ser 1,5 para 1, e a relação entre juros e excesso de atividade devia ser 1 para 0,5:
juros nominal = 1,5 x inflação + 0,5 x excesso de atividade.
Intuição
Quanto ao excesso de atividade, a lógica é mais sutil. Existe uma ficção em economia chamada produto potencial, que mede a capacidade da economia produzir sem gerar pressões inflacionárias. Isso não é observado, mas uma analogia com os indivíduos pode ser feita, desde que lembremos que o produto potencial não mede a capacidade máxima de produção.
Suponha um assalariado, cujo contrato estabelece um salário fixo em troca de 8 horas de trabalho, e, se houver hora extra, o salário/hora aumenta em, digamos, 50%. Nesse exemplo, o produto potencial é medido com 8 horas de trabalho. A partir desse ponto, o salário aumenta. Se toda a economia resolver fazer hora extra, haverá excesso de produção em relação ao produto potencial. A renda das pessoas vai aumentar, o que deverá gerar pressões inflacionárias do lado da demanda. Mas os custos médios também vão aumentar, o que gerará aumento de preços do lado da oferta. Em razão disso, a regra de Taylor postula um aumento de taxa de juros para desincentivar o excesso de atividade, desviando recursos para poupança.
Desdobramentos
Um dos corolários da regra, também conhecido como princípio de Taylor é o seguinte: há estabilidade inflacionária se, e somente se, o coeficiente da inflação é maior do que 1. Vale o contrário: há instabilidade inflacionária se, e somente se, o coeficiente da inflação é menor do que 1.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Greenspan
A frase anterior é a interpretação da mídia sobre uma crítica originalmente feita pelo Rogoff. A interpretação está sutilmente errada. O que o Rogoff disse é que o Greenspan, ante o benefício de olhar para o passado a partir de hoje, reconheça que errou quando tomou sua decisão.
Farei alguns comentários para delinear melhor o debate, se for possível, e nortear argumentos.
1. O Greenpan é um dos membros do comitê que toma decisões e nem sempre vence as votações. Nesse comitê há um monte de gente inteligente que toma decisões e é assessorada por outro monte de gente inteligente. Entretanto, é fácil fazê-lo ser o bode expiatório da vez, como se isso fosse levar a algum lugar;
2. O comitê de política monetária tomou decisões com base nas informações do momento. Não tem o menor sentido dizer que é preciso reconhecer o erro. A questão é saber ser a decisão foi correta, com base nas informações de então. O Rogoff diz que havia condições de tomar outras decisões com base em certas evidências de então, o que me leva ao próximo ponto.
3. O Rogoff via muitas evidências, mas o bando de gente inteligente que eu citei não via. Quer dizer que o Rogoff é clarividente? Não, só quer dizer que, às vezes, ele acerta. É assim, os economistas acabamos fazendo previsões o tempo todo, algumas acertamos, outras erramos. O comitê de política pode ter errado, mas acertou muitas vezes.
4. Ainda não á claro que o comitê errou nem por que teria errado.
5. Se os bancos emprestaram demais, por excesso de liquidez, é preciso entender que foi liberalidade do banco. Os bancos também podem ter errado e perdido um pouco a noção do risco. Nesse sentido, creio ter sido péssimo salvar o Bears, porque gera incentivos para repetir esse comportamento pernicioso. Quando falam que haveria uma crise sistêmica que poderia levar à falência de outros bancos, é sempre bom pensar na dinâmica do processo. Sim, haveria um certo caos, mas as instituições vindouras seriam mais sólidas. A questão é medir o que gera mais bem estar. Minha suspeita, mas sem provas, é que deixar falir hoje gera mais bem estar intertemporal.
Monocultura
Para não dizer que é da política, da cultura, da ideologia, direi simplesmente que é a monocultura das idéias econômicas. Por quê?
O debate econômico neste país é pobre de uma maneira geral, mas em particular entre os partidos. É pobre de maneira geral, porque os veículos de comunição têm colunistas predominantemente heterodoxos. O pior são os partidos, pois a discussão se restringe a definir se um vai gastar mais em saúde ou em educação ou em segurança ou em...
Não há um debate realmente de idéias econômicas do tipo: será que a redução drástica de impostos promove o desenvolvimento?
Enfim, é sempre mais do mesmo. E o pior é ter gente que ainda acha que vivemos em pleno "neoliberalismo", seja lá o que isso significa.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Mínimas II
... e o que mais aproxima europeus e americanos é que ambos acreditam que a essência da vida contemporânea está nos frankfurtianos.*****A concorrência está pesada. Preciso voltar a falar de economia. Só hoje ouvi a reporter de uma emissora falar que os EUA pensam em afrouxar o "embarque" a Cuba, e depois o Lulão falar que vai dar o segundo grito de independência (porque segundo alguma dessas contas malucas o Brasil passou de devedor a credor internacional, o que não é nada, não é nada,...não é nada!).
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Mínimas
O que diferencia europeus e americanos é que os europeus se divertem no horário de trabalho e usam o tempo livre para assistir cinema francês.*****
Aliás, a cabecice do velho mundo está em polvorosa com as eleições americanas. Dá até vontade de votar no McCain.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Tropa de Elite
Eu quero analisar brevemente essas afirmativas. Em primeiro lugar, se é verdade que os críticos no Brasil analisam os filmes somente segundos conceitos marxistas, trata-se de uma pobreza intelectual sem tamanho, embora não seja surpreendente.
Em segundo lugar, o diretor Padilha não podia dizer que seu filme era "neoliberal", pois seria julgado e condenado, uma vez que "neoliberal" é um termo que designa eufemisticamente as forças do mal... segundo os heterodoxos.
Em terceiro lugar, o termo "neoliberal", como não está definido em lugar algum, causa confusão e me deixa confortável por não me ter aventurado a defini-lo. Entretanto, os heterodoxos, como já escrevi, usam essa palavra para designar políticas ortodoxas. Por essa razão, se alguém substituir o termo "neoliberal" por ortodoxo no pensamento de Padilha concluirá que o diretor se confundiu. E por quê? Porque a Teoria dos Jogos é bem estabelecida na tradição ortodoxa. Logo, o conceito sobre o qual o filme se firma é ortodoxo ("neoliberal").
Já que estou aqui para tomar chuva mesmo, aproveito para dizer o que achei do filme. O filme é muito bom e tem o sentido de equilíbrio de forças que norteiam as relações entre bandidos e polícia. Nesse diapasão, a Guerra Fria também se estabeleceu sob esse embate de forças, em que o oponente se arma para dissuadir o inimigo de atacá-lo. Sendo um bom filme, merece ser assistido e apreciado. Não assisti a Sangue Negro, mas não é absurdo dizer que europeus são um pouco anti-americanos. Quero crer que Tropa de Elite ganhou porque é melhor do que Sangue Negro.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
O FED e a Mocidade (por Rafael Souza)
A função bancária sempre esteve ligada primariamente a dois tipos de risco: risco de crédito - advindo da carteira de empréstimos - e risco de termo de taxa de juros - advindo do descasamento de prazo entre passivos e ativos. Ambos apresentam como característica básica distribuição de retornos extremamente assimétrica. A função primeira e óbvia do regulador bancário, portanto, é mapear a exposição a eventos de cauda e garantir níveis adequados de capital para cobrir perdas advindas dos respectivos cenários de baixíssima probabilidade. Fica claro que os agentes reguladores americanos falharam de forma crassa, ludibriados pela cortina de fumaça gerada pela inovação fomentada nos bancos de investimento em Wall Street.
Enquanto CDOs, CDO2s, CMBSs e outras criações da engenharia financeira eram propagandeadas como forma de melhor diversificar o risco de crédito e reduzir o risco sistêmico, os reguladores não enxergaram um rio de nuances que mais tarde viria a cobrar um preço extremamente caro a toda sociedade. Primeiro, os CDOs acentuaram a assimetria de retornos advinda do risco de crédito, reduzindo a probabilidade da materialização de cenários negativos (nas tranches mais seniores). Isto incentivou a tomada de risco, aumentando o tamanho das perdas nos cenários improváveis. Segundo, os CDOs transferiram este tipo de risco - com distribuição de retornos extremamente assimétrica -para a mão de entidades não-reguladas (hedge funds) e sem a expertise de gestão de crédito dos bancos. E terceiro, os CDOs sintéticos aumentaram a quantidade total de risco no sistema. Três ações de impacto extremamente
relevante que, assim como na física, pediam uma reação imediata dos órgãos reguladores, que simplesmente nao ocorreu.
É preciso entender que nem os incentivos e nem o principal tipo de risco incorrido pelos bancos mudou. Os bancos agiram conforme o script, dados os incentivos. Do lobo mal se espera sempre que ele queira comer a vovozinha. Os agentes reguladores, no entanto, dormiram no ponto e sonharam. Sonharam que 10 anos de inovação em derivativos de crédito trariam apenas benefícios ao sistema financeiro; que o incentivo dos bancos de investimento teria deixado de ser de curto prazo; e que traders e estruturadores estariam desenvolvendo novos produtos para melhorar a eficiência de distribuição de risco pelo sistema. O samba da Mocidade finalmente encontrou seu contraponto: sonhar está custando alguns bilhões de dólares à economia
americana.
Crise americana (forthcoming)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Trânsito, Alcolismo e a "Solução"
Segundo a reportagem, o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirma que a sociedade brasileira é passiva diante desses delitos e, por isso, alguém lhe deve ter soprado a idéia de impor normas mais rígidas para a concessão da carteira nacional de habilitação.
Os acidentes de trânsito são um problema social, cujos prejuízos atingem bilhões de reais. Há prejuízos absorvidos na esfera privada e boa parte deles na esfera pública quando policiais, bombeiros e ambulâncias são deslocados para atender esses eventos. Além dissos, os custos hospitalares públicos decorrentes disso são absurdos. Portanto, obviamente algo tem que ser feito de modo geral, para evitar aumento de índices de acidentes como ocorrido no fim do ano passado. Em particular, é inadmissível ocorrerem acidentes por alcolismo, trata-se de uma irresponsabilidade sem tamanho e merece punição severa.
Dito isso, vamos ao que o ministro falou. A sociedade brasileira é passiva? Ora, a legislação punitiva está posta pela sociedade. O que falta? Sintetizando, creio que faltam duas ações. Primeiro é fiscalizar, segundo é punir. A primeira ação claramente inexiste por duas razões, umas das quais sórdida. A primeira razão é a inexistência de uma legislação que encarcere o agente executivo que deixa de cumprir sua função fiscalizatória, quando há risco de morte. Isso a sociedade pode mudar, mas não creio que consiga por causa das minorias infiltradas no poder que perderiam com isso. A segunda razão, a sórdida, é achar que o controle de velocidade por meio de radares eletrônicos resolve o problema. É aí que está a questão. As autoridades fiscalizatórias, e arrecadatórias, escondem-se atrás dos radares, como se isso fosse impedir um motorista alcolizado de acidentar-se depois do primeiro radar que nem viu passar. A atitude correta seria parar o carro em alta velocidade, justamente para impedi-lo de acidentar-se, tal como é feito em países civilizados. Quanto à segunda ação... bem, não há punição, não por falta de leis, mas talvez por excesso de leis.
O Ministro sabe que a ação correta é utópica... no Brasil, claro. Então, um luminar qualquer propõe normas mais rígidas para a concessão da carteira de habilitação, que já é rígida além de absurdamente cara. É uma estupidez atroz, porém não é surpresa, já que o Brasil é heterodoxo. Primeiro, supõe-se que os motoristas alcolizados estão entre aqueles que não obteriam a carteira de habilitação sob normas mais rígidas. Claramente, não há como dizer que essa hipótese é correta. Segundo, não há como dizer que as normas mais rígidas conseguirão identificar os motoristas que dirigirão alcolizado. Porém, a proposta tem vigor, porque o emissor das carteiras de habilitação, absolutamente incapaz de diferenciar os agentes sóbrios dos alcolizados, prefere punir uma maioria que agirá corretamente para, discutivelmente, impedir uma minoria de digirir alcolizada.
Agora, analisando o mérito da proposta anterior com experiência de países civilizados, emerge gigante a ineficácia da proposta. Os requisito para obter habilitação nos EUA são mínimos, nada da palhaçada que é no Brasil. O motorista faz uma prova escrita nos moldes do Brasil, exame de vista e exame prático acompanhado por um fiscal na primeira habilitação. Não há psicotécnico. Quanto custa? US$ 10 em Illinois. Quanto tempo demora? 3 horas. O índice de acidentes em Illinois é maior do que o no Brasil? Há mais motoristas alcolizados dirigindo em Illinois do que no Brasil? Não e não. Por quê? Porque há fiscalização e punição.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Cogito, ergo fumo
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
O quanto a gente (não) sabe sobre educação
E o assunto foi o PISA, essa base de dados que ficou famosa por ter entre outras informações uma prova aplicada a uma amostra de jovens de 15 anos de mais de 20 países, e que todo ano mostra quão fraco é o ensino brasileiro. O fascinante dessa base para quem quer trabalhar com isso é que na verdade há um conjunto muito maior de informações e que são comparáveis entre diferentes países (coletadas com a mesma metodologia, medida nas mesmas grandezas, etc.), o que é raríssimo.