Salvo engano, as pessoas que lêem este blog têm ou terão com certeza curso superior e um alto nível de renda. Então, o exemplo que vou dar aplica-se facilmente a elas.
Imagine que seu filho deseje ser um jogador de futebol. Ele tem talento para ser um excelente jogador, e com sorte até jogar na Europa. Você, porém, recusa-se a reconhecer o talento do seu filho, recusa-se até a vê-lo jogar. Por que você faria isso? Ora, você fez curso superior, ganha bem e sabe que a probabilidade do seu filho se destacar entre os infinitos competidores é muito baixa. Os competidores do seu filho não tiveram as mesmas oportunidades, não estudaram e só se dedicam ao futebol. Logo, têm uma vantagem comparativa natural. Por outro lado, se seu filho prosseguir nos estudos, poderá ser um profissional competente e que ganhará bem, embora nunca o que ganharia se fosse um jogador de futebol exitoso. Como você é avesso ao risco, você simplesmente boicota as pretensões do seu filho. Do ponto de vista dele, ele ainda é um adolescente, sem forças para enfrentá-lo e, portanto, submete-se e vai virar um economista, digamos. Será um economista medíocre, infeliz, mas, enfim, terá um diploma e ganhará o suficiente para sobreviver.
É difícil discutir a eficiência desse arranjo. Sendo certo que o filho estaria melhor se tivesse ido jogar futebol, será que teria sido pior para o pai(mãe) boicotador(a)? Bem, o que eu quero destacar é o domínio do pai sobre o talento do filho. O pai inibiu o talento do filho e causou dois problemas. Primeiro, se o filho tivesse seguido seu destino e talento naturais, poderia estar mais feliz e ter-se tornado milionário. Segundo, esse pai, conhecido no seu círculo social, tornou-se um exemplo a ser seguido. Seus amigos seguem seu exemplo e têm, sistematicamente, inibido o desenvolvimento do talento de seus filhos. Aquele que queria ser economista, vira advogado porque o pai acha que poderá fazer concurso público. A menina que queria ser médica, vira professora do ensino fundamental, porque a mãe acha que ela tem que ter tempo para o marido e filhos, e assim vai.
Por que estou falando tudo isso? Porque é mais ou menos o que essa ideologia heterodoxa, estatista, (sub)desenvolvimentista, intervencionista faz com o Brasil. Todo mundo acha que é bom, mas nunca experimentou o contrafactual de deixar seu filhos crescerem por si mesmos. Os filhos, no caso, é a iniciativa privada; o pai(ou mãe) é o agente econômico detentor do poder estatal determinando tudo o que deve ser feito e como, sendo admirado por outros pais. E quando chega a filha do compadre, espertíssima, culta e que diz ter evidências de inúmeros outros adolescentes mais felizes porque seus pais os deixaram livres para escolher o que fazer, os pais simplesmente a mandam calar-se.
Um comentário:
Excelente :) E, convenhamos: já nos bastam os pais, que são responsáveis por grande parte da nossa necessidade de terapia... E isso porque em geral são bem intencionados, o que nem sempre se pode dizer do poder estatal.
Postar um comentário