sábado, 31 de maio de 2008

Nota Fiscal Paulista: Pode não funcionar

A nota fiscal paulista procura combater a sonegação fiscal. O consumidor declina o número do seu CPF e recebe de volta 30% do imposto pago por aquele produto. Com isso, o Estado de São Paulo, aparentemente, multiplicou por milhões o número de fiscais do ICMS. Como a sonegação é, supostamente, elevada, espera-se que o recolhimento de impostos aumente muito mais do que a renúncia fiscal do estado. Será?

Na prática, tem havido vários problemas graves com o procedimento e que podem relegar ao fracasso uma boa idéia. Primeiro, os consumidores têm alertado que o crédito devido não tem sido feito. Após reclamações, o governo não tem logrado êxito em resolver o problema, gerando descrédito.

Segundo, os consumidores sonegam também. Por isso, acreditam que essa informação poderá ser usada contra eles no futuro, quando houver o cruzamento desses dados com os da receita. Hoje não há tal cruzamento e precisaria haver um convênio entre governos estadual e federal. Mas, o temor tem sentido, principalmente se a criação do IVA, pela qual centraliza-se a arrecadação desse tipo de imposto na esfera federal, for levada a cabo.

Terceiro, os fornecedores, sobretudo restaurantes, dificultam ao máximo a emissão de tal nota. Quando denunciados, é difícil crer que serão fiscalizados.

Quarto, poucos, evidentemente, têm o hábito de pedir nota fiscal e muitos acabam esquecendo-se de pedi-la. Às vezes, é tarde para pedi-la, às vezes vai demorar para ser feita, desistimulando o consumidor.

Quinto, todos sabemos que, quando o hábito de pedir nota fiscal estiver disseminado e o governo estiver arrecadando bastante, a não ser se a segunda razão for dominante, o governo vai revogar essa lei. Há pessoas que poderão achar que o investimento em mudança de hábitos é maior do que os benefícios.

Sexto, há quem prefira não pedir a nota fiscal porque sabe que boa parte do dinheiro adicionalmente arrecadado será usado para aumentar gastos desnecessariamente, desviar recursos e mesmo porque não acredita que haverá melhorias suficientemente compensatórias na saúde, segurança, educação, etc., haja vista o aumento de receitas havidas no Brasil sem contrapartida evidente nas últimas duas décadas.

Juntanto os problemas mencionados, o efeito líquido sobre a arrecadação do estado poderá não ser suficientemente elevado para justificar um programa como esse.

Ironicamente, se der certo, o governo federal também se beneficia, porque o aumento de arrecadação estadual virá, inexoravelmente, acompanhado de um aumento de impostos e contribuições federais de pessoa jurídica.

PS: Há um efeito perverso se o programa der certo: Os preços vão aumentar. Ou você acha que o custo menor, em razão da sonegação, não foi repassado aos preços?


terça-feira, 20 de maio de 2008

capital físico e capital humano

Quando eu tomei as classes do Lucas no segundo ano, teve um insight dele que nem ficou respondido nem parou de me incomodar, apesar de eu ter deixado um pouco de lado o mundo dos agregados.

Era basicamente o seguinte: toda a modelagem de crescimento que tenta incorporar capital humano o faz tentando na medida do possível replicar as decisões e o processo de acumulação de capital físico, já bastante desenvolvido na literatura. No entanto, quando se fala de crescimento sustentado, e por conseguinte de inovação tecnológica sistemática, há um pequeno detalhe que pode fazer uma grande diferença: enquanto quando uma máquina morre seu substituto é um equipamento com maior conteúdo tecnológico (e portanto mais produtivo), um trabalhador é invariavelmente substituído por um recém-nascido com estoque quase nulo de capital humano, e ainda que a velocidade de aprendizado possa estar aumentando com o passar das gerações, é razoável que haja um limite em nossa capacidade de acumular conhecimento no período de uma vida.

A pergunta é então: quais as implicações dessa restrição (física) sobre o processo de acumulação de capital e de crescimento econômico? É possível reconciliar isso com uma taxa constante de crescimento do produto per capita sem cair numa knife edge? E as reduções observadas nas taxas de natalidade, não exigiriam que a capacidade de aprendizado fosse ainda maior para compatibilizar o modelo com os dados? E se o capital humano fosse o gargalo principal do processo de crescimento, não seria de se esperar então que os rendimentos associados a esse fator crescessem proporcionalmente ao longo do tempo?

Bom, se alguém aí se interessar por brux... ops, macroeconomia, fica aí um tópico interessante de pesquisa.

Ensino gratuito

Estranhos consensos que se formam entre economistas...

Pergunte a 10 PhD's se o ensino básico deveria ser gratuito, e ouvirá que SIM, porque o investimento em capital humano é arriscado e não é colateralizável, agravando as dificuldades de se obter crédito para financiá-lo, e fazendo com que se invista abaixo do nível ótimo.

Pergunte agora aos mesmos ditos se a universidade deveria ser gratuita e ouvirá que NÃO, porque os estudantes são os maiores (senão os únicos) beneficiários de tal investimento, e é injusto que toda a sociedade pague por um benefício que será de poucos (ou em economês, na ausência de externalidades, não há porque ter subsídios).

Sei não, mas tenho a impressão que está faltando amarrar essa história para não ficar parecendo que é tudo achismo. Ou como disse o Bloomberg num discurso de formatura em Penn:

"In God we trust, but all the others bring data!".

sábado, 3 de maio de 2008

Marcha soldado

Eu soube outro dia que um grupo de proeminentes intelectuais paulistanos resolveu criar um blog chamado "Economista à paisana", que eu recomendo fortemente, e cujo título certamente foi sugerido por um dos participantes que é condecorado ex-fuzileiro naval.

Para não ficar para trás o tenente Pioner já está estudando as medidas cabíveis e o private Bueno já colocou sua infantaria "neoclássica" de prontidão (impressionante como tem milico nessa nossa área).

***

Direto do reino das jabuticabas:

Rio de Janeiro: Prefeitura regulamenta lei obrigando bares e restaurantes a oferecer fio dental junto com a comida

Jaú (SP): Prefeitura proíbe venda de carambolas a doentes renais

Xapurí (AC): Governo federal inaugura primeira fábrica
estatal de preservativos

... é minha gente, imagina o que não acontece nos países que não são
investment grade

(adendo 19h00) Maracanã(RJ) e Morumbi(SP): Mais uma vez o Flamengo foi campeão e mais uma vez a Ponte Preta do nosso amigo Ricardo Avelino ficou na fila. Ao menos isso no Brasil é 100% previsível.