domingo, 16 de dezembro de 2007

A Produtividade Deu um Salto para Cima?

O que explica um balanço comercial e de pagamentos superavitário há vários anos associado a uma valorização cambial enorme? Essa é a questão fundamental no Brasil, em que se ouvem empresários exportadores apreensivos, porém o câmbio em contínua valorização. Pela lógica econômica, o câmbio valorizado deveria desestimular exportações até um ponto em que o valor de exportações e importações gerariam um balanço comercial suficientemente positivo ou negativo para compensar um balanço de pagamentos negativo ou positivo. Não é o que acontece no Brasil, sugerindo que estamos numa trajetória para o equilíbrio de longo prazo num câmbio ainda mais baixo.

Há várias formas de explicar esse efeito: investidores especulativos, pressionando o Real para cima; aumento da demanda global em função do crescimento chinês; valorização de produtos primários, particularmente minérios; impostos sobre importação; desvalorização do dólar em razão dos déficits norte-americanos.

A rigor, nenhum desses elementos consegue explicar o que acontece no Brasil ou, se explica, trata-se de um efeito parcial. Os investimentos estrageiros no Brasil são predominantemente de longo prazo. O aumento da demanda chinesa não explica a brutal valorização do real, pois é muito menor do que o que vem ocorrendo. O aumento de preço de minérios explica um pouco esse resultado, embora o grosso da pauta de exportações brasileiras hoje seja constituída de produtos manufaturados (veículos, por exemplo). A desvalorização do dólar explica um pouco, mas foi muito maior no Brasil do que em outros países. O Euro desvalorizou no Brasil também.

É preciso quantificar os efeitos de cada componente, e não vi ninguém que tenha feito isso. Às teses comuns para explicar o que está ocorrendo, acrescento a minha suspeita: houve um brutal aumento de produtividade no Brasil, ainda não mensurado, que fez os preços despencarem, os volumes se manterem, embora as margens possam ter sido comprimidas. Esse salto de produtividade é resultado da abertura comercial iniciada no início dos anos 90 e só dez anos depois desponta.

Recomendação de política: sugiro estimular as importações, principalmente de máquinas e equipamentos via eliminação gradual das tarifas de importação. Lembro que é preciso manter o câmbio flexível, já que a história mostra que as intervenções cambiais SEMPRE foram desastrosas para o país no longo prazo.

Obs.: Gostaria de sugerir que visitassem o blog do Alexandre Schwartzman, que joga luz, muito mais tecnicamente, sobre o que discuto aqui. Especificamente, clique aqui (observação adicionada em 02/04/08).

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Hoje no Estado de São Paulo (16/12/07, página A8) lê-se a respeito da sonegação fiscal, cuja fiscalização era feita via CPMF: "A idéia da Receita é criar uma 'Declaração de Movimentação Financeira' nos mesmos moldes em que foi instituída a Declaração de Operações com Cartão de Crédito (Decred) [...] 'A CPMF [...] não é o único instrumento (de fiscalização) disponível', frisou o ex-secretário da Receita Everardo Macial. Segundo ele, o artigo 5.o da Lei Complementar 105 também permite acesso à movimentação. 'Ela não foi usada na época porque nós já tínhamos a CPMF'." (ver comentário anterior que fiz sobre isso.)

É preciso pensar profundamente para entender de novo a estratégia de atribuir aos sonegadores a idéia de ser contra a CPMF. Esse grupo é numericamente irrelevante, portanto, para efeitos práticos, inexiste. Entretanto, há quem atribua aos homens honestos contra a CPMF, numericamente relevantes, a imagem de sonegador.

Clique aqui para ver o que escrevi anteriormente sobre CPMF, prevendo exatamente o que a Receita Federal menciona hoje no jornal.

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