quinta-feira, 27 de março de 2008

Regra de Taylor durante a Megainflação do Brasil

Obs.: Veja o que é regra de Taylor primeiro.

Senso Comum


Dizia-se que a inflação brasileira até o advento do Real era inercial, porque os contratos eram indexados com base na inflação passada. Portanto, as pessoas olhavam para a inflação do passado e subiam os preços.

Tentei escrever um artigo sobre inflação inercial com meu amigo Marcos Tsuchida. Felizmente, o artigo não sobreviveu ao parecerista. Concluí que não havia entendido o que era inflação inercial. E, talvez por isso, tenha essa fixação para entender inflação, tema da minha tese de doutorado.

Inercial ou não, a inflação estava descontrolada. E, na época, dizia-se que as autoridades monetárias simplesmente referendavam esse ser, imprimindo a moeda corresponente ou aumentando os juros conforme "ela" determinava.

Intuição Econômica

Dito isso, pergunto: se você é um comerciante e sabe que a inflação do mês passado foi de 10%, por que você não aumenta seus preços em, digamos 15%, para ficar mais rico? Parece-me que essa seria a atitude racional dos comerciantes. E os demandantes, sabendo que os preços vão aumentar, tenderão a comprar tanto quanto conseguirem, quando recebem papel moeda. Se isso fizer algum sentido para você, creio que fazia para as autoridades monetárias também. Assim, eles percebiam esse movimento e, para evitar a hiperinflação, obrigatoriamente tinham que aumentar os juros numa proporção maior que a inflação VINDOURA, e não passada.

Resultados

A teoria de inflação inercial nunca prosperou, mas muita gente achava "evidências" dela em modelos econométricos de séries temporais.

Minha tese mostra que esses resultados estavam equivocados, e que a intuição anterior devia ser considerada mais detalhadamente. Para isso, uso como referência a Regra de Taylor.

Estabeleço um modelo de expectativas racionais em que os agentes olham para o futuro. Então, consigo mostrar empiricamente que as autoridades monetárias no Brasil faziam exatamente o que o Taylor propunha, isto é, fixavam a taxa de juros à proporção de 1,5 vezes a inflacão.

Se, em vez de usar a expectativa de inflação futura, eu usasse a inflação passada ou corrente, a resposta teria uma magnitude menor.

Conseqüências

Há três conseqüências a partir dos meus resultados. Primeiro, se a "teoria" de inflação inercial tivesse algum sentido, a resposta à inflação futura deveria ser menor ou igual a resposta à inflação corrente.

Segundo, as autoridades monetárias, e os agentes em geral, não são estúpidas de olhar apenas para trás, mas, sim, estabelecem suas perspectivas de futuro. Creio que este é um resultado bem interessante em contraposição ao consenso de outrora.

Terceiro, há uma associação entre descontrole inflacionário e reação à inflação numa proporção maior do que 1 para 1. Entretanto, não se estabiliza a inflação. Portanto, o princípio de Taylor foi violado.

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