O autor retrata uma das dimensões nefastas das políticas "desenvolvimentistas". Não é a única, porém basta essa para entender a natureza das intenções desses agentes. Nada obstante, convém assinalar que os "desenvolvimentistas" não necessariamente conhecem os efeitos do que recomendam em termos de políticas.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
"Desenvolvimentista" = "Inflacionista"
O autor retrata uma das dimensões nefastas das políticas "desenvolvimentistas". Não é a única, porém basta essa para entender a natureza das intenções desses agentes. Nada obstante, convém assinalar que os "desenvolvimentistas" não necessariamente conhecem os efeitos do que recomendam em termos de políticas.
sábado, 22 de dezembro de 2007
Bolsa - família
De forma convincente, o trabalho mostra que o programa é bem focalizado, fazendo com que o dinheiro chegue aos mais pobres e reduza a indigência. Menos convincente é a análise dos impactos sobre a transmissão da pobreza, o que não surpreende se considerarmos a limitação dos dados e a maior complexidade do problema. Neste caso, seria fundamental separar os efeitos do programa de tendências seculares de aumento de escolaridade, e investigar a importância dos diferentes mecanismos que atuam sobre as decisões do domicílio manter a criança na escola (por um lado essa é condição necessária ao recebimento do benefício, atenuada por falhas de monitoramento; e por outro eventual afrouxamento na restrição de crédito das famílias faz com que dependam menos da renda do trabalho das crianças).
domingo, 16 de dezembro de 2007
A Produtividade Deu um Salto para Cima?
Há várias formas de explicar esse efeito: investidores especulativos, pressionando o Real para cima; aumento da demanda global em função do crescimento chinês; valorização de produtos primários, particularmente minérios; impostos sobre importação; desvalorização do dólar em razão dos déficits norte-americanos.
A rigor, nenhum desses elementos consegue explicar o que acontece no Brasil ou, se explica, trata-se de um efeito parcial. Os investimentos estrageiros no Brasil são predominantemente de longo prazo. O aumento da demanda chinesa não explica a brutal valorização do real, pois é muito menor do que o que vem ocorrendo. O aumento de preço de minérios explica um pouco esse resultado, embora o grosso da pauta de exportações brasileiras hoje seja constituída de produtos manufaturados (veículos, por exemplo). A desvalorização do dólar explica um pouco, mas foi muito maior no Brasil do que em outros países. O Euro desvalorizou no Brasil também.
É preciso quantificar os efeitos de cada componente, e não vi ninguém que tenha feito isso. Às teses comuns para explicar o que está ocorrendo, acrescento a minha suspeita: houve um brutal aumento de produtividade no Brasil, ainda não mensurado, que fez os preços despencarem, os volumes se manterem, embora as margens possam ter sido comprimidas. Esse salto de produtividade é resultado da abertura comercial iniciada no início dos anos 90 e só dez anos depois desponta.
Recomendação de política: sugiro estimular as importações, principalmente de máquinas e equipamentos via eliminação gradual das tarifas de importação. Lembro que é preciso manter o câmbio flexível, já que a história mostra que as intervenções cambiais SEMPRE foram desastrosas para o país no longo prazo.
Obs.: Gostaria de sugerir que visitassem o blog do Alexandre Schwartzman, que joga luz, muito mais tecnicamente, sobre o que discuto aqui. Especificamente, clique aqui (observação adicionada em 02/04/08).
Clique aqui para ver o que escrevi anteriormente sobre CPMF, prevendo exatamente o que a Receita Federal menciona hoje no jornal.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Fina Ironia
Não sei a definição de “desenvolvimentismo”, nem de “neoliberalismo”, mas sei que se trata de uma das mais brilhantes peças propagandísticas jamais feitas pelo homem na terra.
De fato, o termo “neoliberalismo” é usado por heterodoxos de forma pejorativa, em geral para referir-se a políticas econômicas ortodoxas ou para referir-se a políticas econômicas heterodoxas desastradas.
É preciso notar que nenhum ortodoxo se diz neoliberal, provavelmente porque não sabe o que significa. Nada obstante, o heteroxos associam esse termo aos ortodoxos e suas políticas, isto é, a um ente criado por eles mesmos, mas que não são eles e que serve como “saco de pancadas”; enfim, um factóide muito bem arquitetado. É brilhante, porque eles nunca têm culpa e os ortodoxos sempre são culpados.
Em contraposição, os heterodoxos, arrogantemente, se entitulam “desenvolvimentistas”, embora idéias como reserva de mercado para informática certamente não seja ortodoxa e represente um retrocesso inominável. Mas é brilhante, porque uma política econômica recessiva e necessária jamais será atribuída aos “desenvolvimentistas”. O significado da palavra associa uma imagem boa para quem se denomina assim, embora em essência representam idéias funestas para a maioria da população. Por outro lado, a palavra associa uma imagem negativa para quem não é desse grupo, ainda que paradoxalmente representem a modernidade, eficiência e desenvolvimento.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
O leitor e os rótulos
"[considerando o atual nível de produtividade] não há, do ponto de vista técnico, [motivo para] alguém trabalhar mais do que quatro horas por dia durante três dias por semana."
Rosen e os superstars
Agora imagine que na época de escolher a profissão, algumas carreiras atraiam sistematicamente os jovens mais talentosos, pela possibilidade de poder ser o melhor na área, ainda que com pequena probabilidade. Neste caso, não apenas a desigualdade será relativamente alta, como também há uma boa chance de que áreas importantes sofram de escassez de talentos. A ausência de um mecanismo para coordenar as ações nesse caso pode fazer ainda com que parte significativa das pessoas se arrependa das escolhas iniciais, e constate que tanto o tamanho da torta quanto a fatia que lhes cabe seria maior se tivesse optado por outras áreas que em princípio não pareciam tão atrativas. É surpreendentemente alta a proporção dos americanos que respondem a certa altura da vida não ter estudado o que deveriam ou quanto deveriam no passado (algo próximo de 60%, na coorte dos que terminaram o segundo grau em 72). O maior problema é que grande parte das tentativas e coordenação correm o risco de reduzir também os incentivos para que os que estão no topo da pirâmide explorem seu potencial na plenitude.
domingo, 9 de dezembro de 2007
Luz à vista
Em 12/12/2007, na Veja, à página 15, o ministro Guido Mantega diz:
“Minha geração de economistas foi formada no pensamento cepalino. Isso foi válido para determinado período, mas a globalização revolucionou todos os princípios econômicos. Aquela história de reserva de mercado, de protecionismo, que eu mesmo defendi, hoje não vale nada [...] Com o câmbio valorizado os empresários brasileiros descobriram que podem importar máquinas e insumos mais baratos. Em geral, nós, economistas, tendemos a ter padrões de pensamento voltados para o passado, como se a economia fosse a mesma de dez, quinze ou vinte anos atrás. Mas não é. A economia é outra.”
Pelos dizeres, é auspicioso que os heterodoxos (não os economistas), discutivelmente sintetizados no ministro Guido, tenham percebido a honestidade dos princípios econômicos há muito defendidos pelos ortodoxos (sim os economistas). Frustrante é não reconhecer que o atraso do Brasil se dá justamente pela aplicação dos mesmos princípios cepalinos que verdadeiramente nunca valeram e continuam vigindo, via estatais e BNDES por exemplo.
Sobre o câmbio valorizado, não foram os empresários brasileiros que descobriram poder importar máquinas, pois é claro que sempre souberam disso, e sim os heterodoxos.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
RÓTULOS – PARTE II: BRASIL
Dentre as políticas ortodoxas recomendadas, algumas das quais incluídas no consenso mencionado, estão livre comércio, câmbio flexível, extinção de subsídios, privatização, governos fortes e compromissados em extinguir falhas de mercado e reduzir a pobreza promovendo a educação.
Os heterodoxos costumam associar aos ortodoxos políticas econômicas curiosamente ausentes da cartilha ortodoxa. Por exemplo, heterodoxos costumam dizer que o governo FHC foi neoliberal, mas esquecem-se de dizer que aumento ininterrupto da carga tributária durante esse período, indexação de tarifas administradas à inflação passada, câmbio fixo até 1999, CPMF, manutenção de universidades públicas, de empresas e bancos estatais, etc. são políticas tipicamente heterodoxas.
Na verdade, nunca antes neste país houve um governo tipicamente ortodoxo, em que as falhas de mercado são supridas pela vigilância de agências reguladoras fortes e tecnicamente competentes, governos enxutos porém robustos, educação básica universal e de alta qualidade, ausência de subsídios e livre comércio internacional, entre outras medidas de impacto microeconômico.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
O Princípio da Seleção
Não por acaso este é tido pelos teólogos como a maior ameaça à prevalência das religiões. Por este, o ideal de equilíbrio e harmonia observados na natureza passa a ter uma explicação alternativa à necessidade de uma inteligência criadora superior: basta que ao longo do tempo as relações menos estáveis fossem desaparecendo gradualmente. Também a ciência é posta em xeque por este princípio, pois as leis científicas que descrevem as relações entre variáveis passam a ser potencialmente verdadeiras apenas no contexto do mecanismo que as selecionou.
A descoberta do princípio da seleção é um divisor de águas na história da ciência, pois dividiu o foco da pesquisa em descobrir tanto as relações de causalidade entre variáveis existente num dado contexto de estabilidade, como também descrever os mecanismos que selecionam estes contextos em detrimento de outros. Em algumas áreas (como a física), o contexto é dado, e a maioria das pessoas não acredita que vá mudar. Nestes a realidade tampouco permite a observação de leis que seriam válidas em outros ambientes, então perder tempo analisando tais possibilidades não faz sentido. Em outras áreas, como biologia e ciências sociais, o entendimento das relações prevalentes em equilíbrio é tão importante quanto a descrição dos mecanismos de seleção.
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
RÓTULOS – PARTE I: EUA
É comum na mídia o uso de palavras como política econômica ortodoxa, consenso de Washington, neoliberalismo, e assim vai... Esse termos são usados indiscriminadamente, em geral por agentes que os usam equivocadamente. Quero clarear um pouco alguns deles com o objetivo de ver mais propriedade em seu uso.
Nos EUA há duas correntes econômicas dominantes, a neoclássica e a neokeyenesiana. Os neoclássicos são economistas ortodoxos, para quem os preços são flexíveis. Os neokeynesianos são economistas heterodoxos, para quem os preços podem ser rígidos. Em comum, as correntes têm os seguintes pilares para justificar seus modelos: fundamentação microeconômica rigorosa e dinâmica intertemporal. Apesar de não existir uma divisão geográfica entre esses economistas, é mais comum encontrar neokeynesianos na costa Leste e neoclássicos no meio Oeste. Exemplos de economistas neoclássicos são José A. Scheinkman, Robert Lucas e Thomas Sargent. Exemplos de economistas neokeyenesianos são Gregory Mankiw, Ben Bernanke e David Romer.
Quanto ao termo Consenso de Washington, em verdade originalmente refere-se a um artigo escrito por Williamson, apresentado num congresso em Washington, que resume políticas econômicas que deram certo em alguns países asiáticos. Portanto, não se trata de uma reunião ocorrida em Washington para definir políticas a serem seguidas pelos países emergentes patrocinadas pelo FMI, mas tão-somente a identificação de medidas exitosas, usalmente ortodoxas, que já tinham sido implementadas.
Na segunda parte, volto ao assunto referindo-me especificamente ao Brasil.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
CPMF
sábado, 1 de dezembro de 2007
A economia da ANAC
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Os males da rotatividade
Daí que em geral ninguém gosta muito de ver seus rendimentos flutuarem como tapetes árabes. A vida se torna difícil de planejar, o indispensável pastel de feira começa a ficar ameaçado nos períodos de penúria, e assim por diante. Mas tudo isso está no livro-texto. O que não está é que além destes custos o acesso ao mercado de crédito fica bem mais difícil. Como consequência, as pessoas perdem com maior frequência boas oportunidades econômicas, são forçadas a pagar taxas mais altas de juros para não ter que abrir mão do pastel, etc., e no fim acabam com seu nível de bem-estar ainda mais comprometido, se comparado a outro que ao longo da vida ganhou em média o mesmo tanto, porém com menos volatilidade.
As desigualdades de oportunidade descritas acima são por enquanto um pouco mais que especulações, mas podem ajudar a explicar nossos altos níveis de desigualdade de renda (e porque as políticas educacionais, geralmente aceitas como solução óbvia para esse problema, tem dados resultados aquém do esperado).
Crise no IPEA
domingo, 25 de novembro de 2007
Mont Pelerin - 60 anos
sábado, 24 de novembro de 2007
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Legalização das drogas
Minha primeira reação foi achar que isso jamais serviria para o Brasil, já que o mercado negro poderia prover quotas acima do limite. Além disso, se o aumento do consumo causasse maior incidência de problemas de saúde, nosso sistema público teria que ser expandido às custas de toda a sociedade, e não somente dos dependentes. Mas depois comecei a pensar que há espaço para desenhar um mecanismo de licenciamento que provavelmente levaria a um aumento de eficiência com respeito à situação atual, e que traria ainda o benefício de acabar com a discricionariedade de se proibir algumas drogas e não outras (como o cigarro e álcool). Por outro lado, o mercado negro não seria tão atrativo pois o excesso de consumo dificultaria a renovação da licença, encarecendo o consumo no futuro (tal como no caso de crédito, em que o mau pagador acaba tendo que recorrer ao agiota se quiser novos empréstimos, a juros maiores e sem proteção legal). Pode ser que desse certo.